quinta-feira, novembro 19, 2009

conto - parte 2

Eriberto sentiu mais uma vez medo de estar lá, mas não pela altura. As pessoas em círculo não deixavam-no olhar o rosto do cadáver, driblou em passos e esticando o pescoço conseguiu ver quem era o pobre menino. Não foi difícil reconhecê-lo, o cabelo ruivo lhe era familiar.
João Deutércio era o mais odiado por Eriberto, aquele era popular entre a garotada e usava toda sua maldade contra este, que apenas o odiava em segredo. Era conhecido por "Joãozinho", mas sempre que chamado assim, replicava: "Tô mais pra Joaozão". E realmente, o garoto era parrudo e maior que os outros da classe, o aumentativo lhe cabia.
Agora esticado no chão, parecia a Eriberto que toda a força do colega havia desaparecido. Foi quando se sentiu confiante, ainda que um pouco sádico. Sentiu prazer na fraqueza do outro e, instantaneamente, sentiu tristeza; entendeu que João precisava fazê-lo fraco para se sentir confiante e o evento fez com que perdoasse os maus-agrados que havia recebido do garoto.
Passada a euforia inicial, foi-se descobrir o que houve. O valentão soltou o cinto quando o brinquedo estava alto, não ficou explícito o porque, mas Eriberto teve com ele que foi para provar sua coragem; ficou feliz em ser covarde. Depois do dia no parque, o medo de altura foi menor.
Passado o tempo, Eriberto se formou e quase esquecia o acontecido, mas sempre resgatava a lembrança quando a altura lhe era imposta.

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