domingo, novembro 08, 2009

conto - parte 1

Eriberto teve medo de altura desde quando foi gente. Ele nunca subia em árvores, gostava de qualquer brincadeira que mantivesse seus pés no chão. As crianças da rua costumavam apelidá-lo com nomes maldosos por causa de seu receio; isso fez com que seu medo aumentasse, e aumentou. Eriberto não sabia mais o que fazer, pois não tinha amigos; não brincava das brincadeiras dos meninos, que eram como macacos: só sabiam se pendurar.
Certo dia o menino se viu em um cerco de aranhas, soubera que sua turma organizara um passeio ao parque de diversões. Seu maior pesadelo estava prestes a se concretizar quando ele pensou em pedir à mãe que o deixasse não ir. A mãe sentiu angustia ao pensar que seu filho nunca largaria o medo, o que era uma vergonha para o pai, já que era aviador. Ela hesitou e não deixou que ele faltasse ao passeio. Por sua vez, Eriberto viu o chão sumir debaixo de seus pés ― foi a primeira vez que o garoto encarou a altura, mesmo que imaginária. Foi dormir, mas não conseguia, a noite demorou a passar e quando a manhã chegou, ele já estava no parque dos horrores.
As crianças, empolgadas, pediram logo à professora para irem à montanha russa. Eriberto gelou as mãos e se sentiu tonto só em pensar naquele brinquedo gigante, a tontura ficou pior quando olhou para cima. Os outros, já agitados, viraram-se contra ele rindo e apostando uns com os outros se o moleque iria ou não conseguir ir à altura. Sentiu vontade de chorar e um frio na barriga, segurou o choro e correu para o banheiro do parque; lá soltou toda sua mágoa e ficou ali por um bom tempo. Assim que saiu viu uma agitação se formar em volta da montanha russa, preocupou-se e foi ter com os outros para ver o acontecido: alguém caído no chão.

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