terça-feira, outubro 20, 2009

"Corre o risco de que seu rosto desvelado decepcione seus amantes; ou que seus olhos grandes abertos e oferecidos lhes pareçam ainda cobertos de um sombrio véu: o desejo não pode mais cessar de procurar em outro lugar"

Jean Starobinski - Ensaio L'OEil vivant p. 11

Livre arbítrio

Faço o que quero fazer,
sou o que quero ser.

Seu espírito libertário
[me estarreceu:
Da carne ao sangue,
nada é meu.

sábado, outubro 17, 2009

Em cena

Pessoas estão cansadas das rotinas que elas mesmas constroem, do palco que montam, dos personagens diariamente interpretados. O baile de máscaras teve início e não esperamos pelo seu fim. O teatro dos horrores foi armado para que cada um pudesse encenar o roteiro da vida.
Hoje eu interpretei a menina cheia de sonhos, amanhã sou mulher fatal; ontem fui o que não sou mais: o depois já chegou.

sexta-feira, outubro 16, 2009

gráduo

Do fracasso à pura dor
me limito a saber o que faço,
mesmo tendo a força do aço
deleito da tristeza o sabor.

Vendo humanos transbordes
das lágrimas do palhaço
manejo dos nós aos laços
domino do sopro aos acordes

Entendo carícias de amor
sinto de malícia a calma
― escondo a dureza da alma,
escondo a beleza da cor.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Para começar

O tempo foi feito para não voltar. Na direção dos ventos voa e nos faz andar sobre ele de pés descalços, não há ancoras nem há como remar de volta. Cada instante é um passo a mais nessa linha reta e contínua que nos leva a lugar nenhum: mesmo parados nos movemos na mesma direção.
O tempo é simplesmente fora das regras criadas pela física e dos limites de qualquer vocabulário. Pode ser percebido quando as lembranças nos remetem ao passado e a perspectiva tenta alcançar o futuro. Consegue ser forma independente de energia que não é a mesma no início e no fim e não permite que se nade contra a correnteza; voltar seria em vão.