terça-feira, novembro 24, 2009

imitação

curta vida,
― glupt.
(poema pílula)

Na próxima eu continuo o conto.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Extra!

Nas páginas do jornal: as notícias mais importantes do dia. Fulano bebeu; sicrano morreu, beltrano sobreviveu. A política, a economia, o mundo. Lá fora a noite cai, a vizinha na janela, carros na rua; quem retrata o canto dos passarinhos? E o passeio dos velhinhos? Ser feliz é aquém. É importante saber ― importante para quem?

quinta-feira, novembro 19, 2009

conto - parte 2

Eriberto sentiu mais uma vez medo de estar lá, mas não pela altura. As pessoas em círculo não deixavam-no olhar o rosto do cadáver, driblou em passos e esticando o pescoço conseguiu ver quem era o pobre menino. Não foi difícil reconhecê-lo, o cabelo ruivo lhe era familiar.
João Deutércio era o mais odiado por Eriberto, aquele era popular entre a garotada e usava toda sua maldade contra este, que apenas o odiava em segredo. Era conhecido por "Joãozinho", mas sempre que chamado assim, replicava: "Tô mais pra Joaozão". E realmente, o garoto era parrudo e maior que os outros da classe, o aumentativo lhe cabia.
Agora esticado no chão, parecia a Eriberto que toda a força do colega havia desaparecido. Foi quando se sentiu confiante, ainda que um pouco sádico. Sentiu prazer na fraqueza do outro e, instantaneamente, sentiu tristeza; entendeu que João precisava fazê-lo fraco para se sentir confiante e o evento fez com que perdoasse os maus-agrados que havia recebido do garoto.
Passada a euforia inicial, foi-se descobrir o que houve. O valentão soltou o cinto quando o brinquedo estava alto, não ficou explícito o porque, mas Eriberto teve com ele que foi para provar sua coragem; ficou feliz em ser covarde. Depois do dia no parque, o medo de altura foi menor.
Passado o tempo, Eriberto se formou e quase esquecia o acontecido, mas sempre resgatava a lembrança quando a altura lhe era imposta.

domingo, novembro 08, 2009

conto - parte 1

Eriberto teve medo de altura desde quando foi gente. Ele nunca subia em árvores, gostava de qualquer brincadeira que mantivesse seus pés no chão. As crianças da rua costumavam apelidá-lo com nomes maldosos por causa de seu receio; isso fez com que seu medo aumentasse, e aumentou. Eriberto não sabia mais o que fazer, pois não tinha amigos; não brincava das brincadeiras dos meninos, que eram como macacos: só sabiam se pendurar.
Certo dia o menino se viu em um cerco de aranhas, soubera que sua turma organizara um passeio ao parque de diversões. Seu maior pesadelo estava prestes a se concretizar quando ele pensou em pedir à mãe que o deixasse não ir. A mãe sentiu angustia ao pensar que seu filho nunca largaria o medo, o que era uma vergonha para o pai, já que era aviador. Ela hesitou e não deixou que ele faltasse ao passeio. Por sua vez, Eriberto viu o chão sumir debaixo de seus pés ― foi a primeira vez que o garoto encarou a altura, mesmo que imaginária. Foi dormir, mas não conseguia, a noite demorou a passar e quando a manhã chegou, ele já estava no parque dos horrores.
As crianças, empolgadas, pediram logo à professora para irem à montanha russa. Eriberto gelou as mãos e se sentiu tonto só em pensar naquele brinquedo gigante, a tontura ficou pior quando olhou para cima. Os outros, já agitados, viraram-se contra ele rindo e apostando uns com os outros se o moleque iria ou não conseguir ir à altura. Sentiu vontade de chorar e um frio na barriga, segurou o choro e correu para o banheiro do parque; lá soltou toda sua mágoa e ficou ali por um bom tempo. Assim que saiu viu uma agitação se formar em volta da montanha russa, preocupou-se e foi ter com os outros para ver o acontecido: alguém caído no chão.