O medo que o garoto sentia nunca desapareceu por completo, sempre que pensava no alto, pensava na morte. Claramente lhe ocorria João e a tragédia no parque, e, conquanto evitasse lugares onde o medo lhe confrontasse, por vezes, fechava os olhos e se via caindo dentro de si, naquele vazio que nascera com ele ― maior que qualquer vão já imaginado.
Mais velho, lá pelos quarenta anos, ainda tinha a sensação que lhe assombrava desde garoto. Viu que seu medo maior se encontrava em si; passara a vida evitando o que vivia com ele. Nesse momento de revelação, quis sentir a absolvição sentida quando criança, no passeio. Despediu-se da família que lhe restava e correu para o lugar mais alto o qual já sentiu pavor ― um penhasco onde os garotos brincavam na infância. Lá, ao abrir os braços, sentiu uma liberdade que jamais cogitou sentir. O vento, que passava pelo seu corpo, limpava sua alma. Pela primeira vez sentiu que existia. Assim que voltou a si, não quis mais perder o que havia encontrado. Eriberto não hesitou: ainda que a ventania o quisesse para trás, fechou os olhos e se deixou voar ― ao saber do mundo, soube de si.
2 comentários:
lindo viu?
meu predileto.
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